No dia 27 de maio, celebramos o Dia Nacional da Mata Atlântica, uma data que remonta à assinatura da Carta de São Vicente pelo Padre Anchieta, em 1560. Nesse importante documento, foram registradas, pela primeira vez, as riquezas da biodiversidade das florestas tropicais nas Américas. O documento relata as experiências e observações do Padre Anchieta durante suas viagens e explorações na região. Ele descreve as características da flora e fauna encontradas, bem como a interação das comunidades indígenas com o ambiente natural. A Carta de São Vicente é considerada uma das primeiras descrições científicas da biodiversidade nas Américas, fornecendo informações valiosas sobre a diversidade biológica presente na Mata Atlântica à época.
A Mata Atlântica, a segunda maior floresta tropical do Brasil, abriga uma biodiversidade única que rivaliza com as maiores do planeta. Sua diversidade biológica abrange uma ampla variedade de espécies vegetais e animais, muitas das quais são endêmicas, ou seja, encontradas apenas nessa região. Embora seja difícil fornecer uma lista abrangente de todas as espécies presentes na Mata Atlântica, aqui estão alguns exemplos representativos da sua biodiversidade:
- Flora: A Mata Atlântica abriga uma grande diversidade de espécies vegetais, incluindo inúmeras árvores, arbustos, orquídeas, bromélias e samambaias. Estima-se que existam mais de 20 mil espécies de plantas nesse bioma, com uma alta proporção de espécies endêmicas.
- Fauna terrestre: A Mata Atlântica é o lar de uma grande variedade de animais terrestres, incluindo mamíferos como a onça-pintada, o mico-leão-dourado, o tatu-canastra e o sagui-da-serra-escuro. Além disso, a região abriga uma diversidade de répteis, como cobras e lagartos, e uma grande variedade de aves, como a jacutinga, o tucano-de-bico-verde e o papagaio-de-cara-roxa.
- Fauna aquática: A Mata Atlântica também possui uma riqueza de espécies aquáticas em seus rios, córregos e lagos. Peixes como o lambari, o dourado, o cascudo e o surubim habitam essas águas, juntamente com anfíbios como as pererecas e os sapos. Além disso, crustáceos, moluscos e uma variedade de insetos aquáticos contribuem para a diversidade do ecossistema aquático.
- Biodiversidade marinha: A Mata Atlântica também se estende ao longo da costa brasileira, abrangendo uma parte significativa do oceano Atlântico. Nessas águas, encontramos uma rica diversidade marinha, incluindo corais, peixes coloridos, tartarugas marinhas, golfinhos e uma variedade de invertebrados marinhos.
Essa região compreende aproximadamente 15% do território brasileiro e se estende por 17 estados, desde o Piauí até o Rio Grande do Sul, além de partes da Argentina e do Paraguai. Embora, durante o período do descobrimento, essa floresta ocupasse continuamente toda a faixa costeira, atualmente restam apenas dois grandes fragmentos de vegetação nativa. Estes estão localizados na Serra do Mar, entre os estados do Paraná e Rio de Janeiro, e na região de Foz do Iguaçu, na fronteira com a Argentina e o Paraguai. Dados da SOS Mata Atlântica revelam que apenas 12,4% da floresta original permanece preservada, devido ao avanço da urbanização e da industrialização.
Mesmo diante da inegável importância da Mata Atlântica para a conservação da biodiversidade, essa região continua enfrentando altas taxas de desmatamento, o que coloca em risco diversas espécies vegetais e animais. Apenas nos primeiros seis meses de 2020, a taxa de desmatamento já era maior do que a registrada em todo o ano anterior.
Por essa razão, as políticas públicas voltadas para a conservação da Mata Atlântica assumem um papel de extrema relevância. As Unidades de Conservação, por exemplo, desempenham um papel fundamental na preservação dessa região, não apenas guardando a riqueza de sua biodiversidade, mas também interagindo com as comunidades locais. Além de oferecer atividades de uso público, quando permitido, as Unidades de Conservação promovem a participação das comunidades por meio de Conselhos Gestores e da elaboração de planos de manejo. É essencial que a população se reconheça como parte integrante dessas Unidades e esteja engajada na luta pela sua preservação.
Dados Preocupantes Apontam Necessidade de Leis Acirradas de Proteção à Mata Atlântica
Entre outubro de 2021 e outubro de 2022, mais de 20 mil hectares da Mata Atlântica foram desmatados, conforme dados divulgados pelo Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (INPE). A Mata Atlântica é um bioma que se estende ao longo do litoral brasileiro e abrange 17 estados, além do Paraguai e da Argentina.
Minas Gerais se destaca como o estado com o maior desmatamento, registrando a derrubada de 7.456 hectares em um ano, o que equivale a mais de dez mil campos de futebol. A agricultura é a principal causa do desmatamento na Bahia, Minas Gerais e Piauí, representando 73,2%, 93,4% e 64,5% das áreas desmatadas, respectivamente. Essa tendência se repete em todo o bioma, onde 86,4% do desmatamento total é motivado pela agricultura. Os dados finais revelam que o desflorestamento alcançou um total de 20.075 hectares do bioma, resultando na emissão de 9,6 milhões de toneladas de CO2 equivalente na atmosfera. Essa cifra representa uma redução de 7% em comparação ao ano anterior, quando foram desmatados 21.642 hectares. No entanto, a área desmatada é a segunda maior dos últimos seis anos e está 76% acima do valor mais baixo registrado na série histórica.
Em relação à distribuição geográfica do desmatamento, Mato Grosso do Sul, Minas Gerais, Paraná, Bahia, São Paulo e Santa Catarina são responsáveis por mais de 50% de todo o desmatamento do bioma. Nos primeiros dez meses de 2022, foram desmatados 48.660 hectares. A Bahia e Minas Gerais lideram o desmatamento nesse período, com 15.814 e 14.389 hectares, respectivamente, seguidos pelo Piauí, com 6.232 hectares desmatados.
Dados da SOS Mata Atlântica destacam que esses números confirmam o aumento do desmatamento no bioma, seguindo uma tendência observada em outros biomas do Brasil, como a Amazônia, onde têm sido registrados os maiores índices dos últimos 10 anos. A expansão agropecuária em larga escala é apontada como a principal causa dos grandes desmatamentos contínuos, evidenciando falhas na fiscalização e no combate ao desmatamento em todo o país.
É preocupante notar que mais de 86% do desmatamento total na Mata Atlântica é impulsionado pela agricultura. Essa estatística ressalta a necessidade de uma abordagem abrangente para o desenvolvimento agrícola, que leve em consideração a conservação dos recursos naturais e a proteção do meio ambiente.
Os dados finais revelam que foram emitidas cerca de 9,6 milhões de toneladas de CO2 equivalente na atmosfera devido ao desflorestamento na Mata Atlântica. Essa emissão contribui para o agravamento das mudanças climáticas e seus impactos negativos, como o aumento da temperatura global e a intensificação de eventos climáticos extremos.
Para reverter essa situação alarmante, é crucial a implementação de leis mais acirradas de proteção à Mata Atlântica. Essas leis devem abranger uma fiscalização rigorosa do cumprimento das normas ambientais, punições severas para aqueles que violarem a legislação e incentivos para práticas sustentáveis de uso da terra. Além disso, é fundamental envolver todos os setores da sociedade, incluindo governos, organizações não governamentais, empresas e comunidades locais, no esforço de preservação da Mata Atlântica. A conscientização pública sobre a importância desse bioma e os benefícios que ele oferece para a qualidade de vida e para a saúde do planeta também desempenham um papel crucial na conservação.
A proteção da Mata Atlântica não é apenas uma responsabilidade do Brasil, mas também uma questão global. Esse bioma abriga espécies únicas e desempenha um papel fundamental na regulação climática e no equilíbrio dos ecossistemas. Portanto, é imperativo que sejam tomadas medidas urgentes para fortalecer a proteção da Mata Atlântica e garantir sua preservação para as gerações futuras.