As mudanças climáticas representam um dos desafios mais urgentes e complexos que a humanidade enfrenta atualmente. A ciência é clara e consistente em suas conclusões: é crucial manter o aumento da temperatura global em 1,5°C para evitar impactos perigosos e irreversíveis. Para atingir essa meta, é necessário reduzir as emissões de gases de efeito estufa (GEE) pela metade até 2030 e alcançar emissões líquidas zero até meados do século.

Apesar de muitos países, empresas, cidades e investidores terem anunciado compromissos e ações para enfrentar as mudanças climáticas, infelizmente, esses esforços ainda estão longe do necessário. Um relatório do World Resources Institute (WRI) intitulado “State of Climate Action 2022 ” analisou 40 indicadores de ações necessárias para limitar o aquecimento a 1,5°C até 2030 e 2050. Esse estudo revelou que nenhum dos 40 indicadores avaliados está no caminho certo para atingir as metas de 2030.

Embora a maioria dos indicadores (27) esteja avançando na direção correta, esses avanços estão ocorrendo em um ritmo insuficiente para reduzir as emissões de GEE pela metade até 2030.

Os setores que mais emitem no mundo, como energia, construção, indústria, transportes, florestas e uso da terra, alimentos e agricultura, estão enfrentando desafios significativos na transição para práticas mais sustentáveis. Embora haja progresso em várias áreas, como expansão de energia renovável e combate ao desmatamento, esses avanços são muito lentos para alcançar as metas estabelecidas.

É necessário um aumento significativo na ambição e na ação global para combater as mudanças climáticas. Os governos devem adotar políticas mais robustas, investimentos devem ser direcionados para tecnologias limpas e de baixo carbono, e a sociedade como um todo deve adotar mudanças em seu estilo de vida e consumo. A cooperação internacional também é essencial, pois as mudanças climáticas são um desafio global que requer esforços coordenados.

À medida que a demanda por eletricidade continua a crescer globalmente, é crucial encontrar maneiras de atender a essa demanda de forma sustentável e em linha com as metas climáticas. Para manter a meta de limitar o aumento da temperatura global a 1,5°C ao alcance, é necessário acelerar significativamente a participação das fontes de energia de carbono zero na geração de eletricidade.

Ou seja, com políticas adequadas e incentivos adequados, a adoção de tecnologias de energia de carbono zero pode seguir uma trajetória não linear e aumentar muito mais rapidamente do que no passado. Nos últimos anos, avanços significativos nas tecnologias de energia renovável, como a energia solar e eólica, bem como em soluções de armazenamento de energia foram observados.

Esses avanços tecnológicos têm sido impulsionados por uma combinação de fatores, incluindo redução de custos, melhorias na eficiência e inovações na fabricação e instalação de equipamentos. À medida que as economias de escala são alcançadas e mais investimentos são direcionados para essas tecnologias, os custos continuam a diminuir, tornando-as cada vez mais competitivas em relação às fontes de energia convencionais.

Além disso, a conscientização crescente sobre os impactos das mudanças climáticas e a necessidade de reduzir as emissões de GEE têm impulsionado a demanda por energia limpa. Governos e empresas têm adotado metas ambiciosas de descarbonização e estão implementando políticas e regulamentações favoráveis ​​às fontes de energia renovável. Isso cria um ambiente propício para o rápido crescimento e adoção dessas tecnologias.

A transição para uma matriz energética mais limpa e de carbono zero traz consigo uma série de benefícios além da mitigação das mudanças climáticas. A geração de eletricidade a partir de fontes renováveis ​​reduz a dependência de combustíveis fósseis, o que promove a segurança energética e diminui a volatilidade dos preços da energia. Além disso, a expansão das energias renováveis ​​gera empregos verdes e impulsiona o desenvolvimento econômico sustentável.

A adaptação às mudanças climáticas é uma necessidade urgente para construir resiliência diante dos impactos crescentes do clima. No entanto, para que as medidas de adaptação sejam eficazes, é essencial aumentar o financiamento disponível e expandir as soluções existentes.

Atualmente, políticas climáticas em mais de 170 países reconhecem a importância da adaptação. No entanto, muitas nações ainda estão nos estágios iniciais de planejamento e precisam avançar para a implementação efetiva. As medidas de construção de resiliência tendem a ser de pequena escala, reativas e incrementais, com foco nos impactos imediatos e nos riscos de curto prazo. Essa abordagem limitada reflete, em parte, a falta de financiamento adequado para enfrentar os desafios da adaptação.

De acordo com o Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas (IPCC, sigla em inglês), os países em desenvolvimento precisarão de bilhões de dólares anualmente até 2030 e 2050 para se adaptarem às mudanças climáticas. No entanto, os fundos de adaptação atualmente disponíveis estão significativamente abaixo dessas necessidades. Em 2017 e 2018, os fundos de adaptação alcançaram apenas 4% e 8%, respectivamente, do financiamento climático necessário.

Porém, o IPCC concluiu que, com apoio adequado, soluções de adaptação já existentes e comprovadamente eficazes podem construir resiliência aos riscos climáticos e, ao mesmo tempo, gerar amplos benefícios para o desenvolvimento sustentável.

A adaptação baseada em ecossistemas é um exemplo promissor. Essa abordagem ajuda as comunidades a se adaptarem aos impactos climáticos devastadores em suas vidas e meios de subsistência. Além disso, ela protege a biodiversidade, contribui para a saúde, fortalece a segurança alimentar, gera benefícios econômicos e fortalece o sequestro de carbono. Medidas de adaptação baseadas em ecossistemas, como a proteção, restauração e manejo sustentável desses sistemas, assim como práticas agrícolas mais sustentáveis, como a integração de árvores nas áreas de cultivo e a diversificação das culturas, podem ser implementadas a custos relativamente baixos. Além disso, é crucial que a crise climática seja considerada na prevenção de conflitos e no estabelecimento de estratégias efetivas de segurança.

Ameaças Climáticas à Paz Mundial: Enfrentando Desafios e Construindo Resiliência

A crise climática representa, também, uma ameaça cada vez mais evidente à paz e à segurança global. As mudanças climáticas têm o potencial de agravar tensões existentes, aumentar as disparidades socioeconômicas e desencadear conflitos em várias partes do mundo.

As mudanças climáticas têm impactos significativos nas condições de vida das pessoas, principalmente em regiões que dependem fortemente de recursos naturais para sua subsistência, como a agricultura, a pesca e a disponibilidade de água. A escassez de recursos naturais e os eventos climáticos extremos, como secas prolongadas, inundações e tempestades intensas, podem desencadear disputas territoriais, conflitos étnicos, migração forçada e tensões socioeconômicas.

Um exemplo claro dessa interação entre mudanças climáticas e conflitos é a região do Sahel, na África, que enfrenta uma combinação de instabilidade política, pobreza extrema, seca e escassez de recursos naturais. A seca recorrente e o avanço do deserto do Saara levaram ao deslocamento de comunidades, escassez de alimentos e conflitos por recursos escassos, aumentando as tensões e a violência na região.

Além disso, a competição por recursos naturais, como água e terras férteis, pode agravar conflitos existentes e criar tensões entre grupos étnicos ou comunidades. Em regiões onde a governança é fraca, a disputa por recursos naturais pode se transformar em conflitos violentos, com consequências humanitárias devastadoras.

Considerar a crise climática na prevenção de conflitos envolve ações tanto no âmbito nacional quanto no internacional. Em nível nacional, os governos devem adotar políticas e estratégias que promovam a resiliência climática, a gestão sustentável dos recursos naturais e a equidade socioeconômica. Isso pode incluir investimentos em infraestrutura resiliente ao clima, promoção de práticas agrícolas sustentáveis, fortalecimento das instituições de governança e capacitação das comunidades locais.

No âmbito internacional, é essencial promover a cooperação e a solidariedade entre os países, especialmente os mais vulneráveis às mudanças climáticas. Os acordos internacionais, como o Acordo de Paris, fornecem um quadro importante para abordar a crise climática e prevenir conflitos. O apoio financeiro e técnico aos países em desenvolvimento para enfrentar os desafios climáticos também desempenha um papel crucial na prevenção de conflitos.

Além disso, a educação e a conscientização pública sobre os impactos das mudanças climáticas e a importância da cooperação global são fundamentais.

A Organização das Nações Unidas (ONU) recentemente alertou para a existência de “pontos quentes climáticos” que colocam aproximadamente 3,5 bilhões de pessoas em risco ao redor do mundo. Esses pontos quentes são regiões onde os impactos da mudança climática são especialmente intensos e representam uma ameaça significativa para a segurança e o bem-estar das comunidades locais.

Esses pontos quentes climáticos são caracterizados por uma combinação de fatores, incluindo altas temperaturas, secas prolongadas, aumento do nível do mar, eventos climáticos extremos e escassez de recursos naturais, como água e alimentos. Eles podem ser encontrados em diversas partes do mundo, abrangendo desde áreas costeiras vulneráveis a inundações e tempestades mais intensas, até regiões agrícolas afetadas pela desertificação e pela diminuição da produtividade das colheitas.

É importante destacar que esses pontos quentes climáticos não afetam igualmente todas as regiões e populações do planeta. Os países e comunidades mais pobres e menos desenvolvidos são os mais suscetíveis aos impactos da mudança climática, devido à falta de recursos e capacidades para se adaptar e mitigar esses efeitos.

O Conselho de Segurança das Nações Unidas reconhece cada vez mais essa conexão entre a mudança climática e os conflitos, alertando sobre os efeitos desestabilizadores e a diminuição dos recursos. Infelizmente, a instabilidade resultante desses desafios pode servir como um terreno fértil para a radicalização, o extremismo violento e até mesmo o surgimento de grupos terroristas.

A região do Chifre da África tem enfrentado desafios significativos decorrentes das mudanças climáticas, especialmente secas e eventos climáticos extremos.

Apesar desse cenário desafiador, existe um aspecto positivo a ser considerado: a mudança climática, quando comparada a outros fatores de risco para a segurança internacional, possui um grau de previsibilidade relativamente alto. Embora ainda haja incertezas em relação às projeções climáticas em escala local, os modelos climáticos existentes fornecem uma imagem bastante clara do que o futuro reserva. Essa previsibilidade oferece uma base sólida para que os governos e as sociedades possam se planejar de maneira adequada e implementar medidas de mitigação e adaptação.

A presença de missões de campo da ONU nesses países indica o reconhecimento internacional da necessidade de fornecer assistência humanitária e promover a estabilidade em contextos complexos e vulneráveis. Essas missões têm como objetivo ajudar a proteger os direitos humanos, fornecer assistência humanitária, facilitar o processo de paz e fortalecer as instituições governamentais.

No entanto, é importante reconhecer que os desafios enfrentados por esses países vão além da esfera climática. A pobreza, a desigualdade, a governança frágil, a falta de acesso a serviços básicos e a violência são problemas interligados que precisam ser abordados de forma abrangente e completa.

Além das missões de campo da ONU, é fundamental que a comunidade internacional trabalhe em conjunto para apoiar esses países, fortalecendo sua resiliência e capacidade de adaptação às mudanças climáticas. Isso inclui a prestação de assistência financeira, transferência de tecnologia, capacitação e fortalecimento das instituições locais, bem como a promoção de parcerias globais para enfrentar os desafios complexos que essas nações enfrentam.

A crise climática exige uma resposta imediata e coletiva para garantir que o aumento da temperatura global seja mantido abaixo de 1,5°C, como destacado no relatório do IPCC.

A fim de alcançar esse objetivo, é essencial atingir o pico das emissões de gases de efeito estufa até 2025. Isso requer uma transformação significativa nos sistemas de energia, gradualmente reduzindo a dependência de combustíveis fósseis e adotando fontes de energia renovável.

Além disso, é de suma importância reduzir as emissões pela metade até 2030. Isso implica na adoção de práticas sustentáveis em todos os setores, incluindo energia, transporte, agricultura e indústria. A inovação tecnológica desempenha um papel crucial nesse processo, incentivando o desenvolvimento e a implementação de soluções de baixo carbono e eficiência energética.

Garantir o acesso dessas comunidades aos recursos necessários para enfrentar os desafios climáticos é uma prioridade, promovendo, assim, a igualdade e a inclusão em todas as iniciativas.

Da Intenção à Ação: Impulsionando Mudanças nos Principais Setores Emissores para Cumprir a Meta de 1,5°C

Para preencher a lacuna da ação climática nos principais setores emissores e manter a meta de 1,5°C possível, há várias ações que precisam ser tomadas nesta década:

A transição para uma matriz energética de carbono zero é uma etapa fundamental para enfrentar a crise climática e manter a meta de 1,5°C ao alcance. Embora tenha ocorrido um crescimento significativo na adoção de fontes de energia renovável nos últimos anos, os dados mostram que ainda há um longo caminho a percorrer.

Apesar do aumento no uso de energia solar e eólica, a participação dessas fontes na geração total de eletricidade ainda não teve um impacto substancial nas emissões de CO2. A geração de eletricidade a partir de fontes de carbono zero não registrou mudanças significativas desde 2000, devido ao crescimento contínuo na demanda global por eletricidade.

Em 2021, as emissões do setor de energia atingiram um pico histórico, refletindo o aumento do uso de carvão e gás natural em algumas regiões. Embora a tendência global mostre uma queda no uso do carvão, em países como Japão, China e Índia, a geração de eletricidade a partir do carvão ainda está em expansão. Além disso, a utilização de gás natural continua crescendo em muitas partes do mundo.

Para atingir a demanda crescente por eletricidade e cumprir a meta de 1,5°C, é necessário acelerar consideravelmente o aumento da participação das fontes de carbono zero na geração de energia elétrica. Estudos indicam que é preciso aumentar em seis vezes o ritmo atual de crescimento dessas fontes. É encorajador saber que, com políticas adequadas, a adoção de tecnologias de carbono zero pode seguir uma trajetória de crescimento não linear e acelerar rapidamente.

Ao mesmo tempo, é crucial reduzir gradualmente a participação do carvão sem abatimento de emissões na geração de eletricidade, fechando usinas ineficientes e substituindo-as por fontes de energia renovável. Estima-se que seja necessário fechar aproximadamente 925 usinas médias por ano até 2030 para alcançar essa meta. Além disso, o uso de gás natural também precisa diminuir ao invés de aumentar, como ocorre atualmente.

São necessárias políticas e incentivos que promovam a expansão das energias renováveis, a implementação de tecnologias de armazenamento de energia eficientes e a melhoria da eficiência energética em todos os setores.

No setor da construção, é necessário não apenas melhorar a eficiência energética dos edifícios, mas também fazer a transição para construções carbono zero até 2030. Embora existam tecnologias disponíveis, como bombas de calor, os esforços recentes para descarbonizar o setor ainda não foram suficientes. A intensidade energética das construções diminuiu nas décadas anteriores, mas a progressão desacelerou recentemente. Para alcançar a meta de 1,5°C, é necessário acelerar sete vezes mais as melhorias de intensidade energética em construções residenciais e cinco vezes mais nas comerciais durante esta década. Além disso, é essencial atender à demanda energética restante com fontes de baixo ou zero carbono, como eletrificar as operações e utilizar fontes renováveis para produzir eletricidade.

Para atingir as metas de intensidade energética e de carbono no setor da construção até 2030, é crucial aumentar as taxas de adaptação das construções existentes. Atualmente, essas taxas são inferiores a 1% ao ano, mas precisam chegar a 2,5% a 3,5% por ano, especialmente nos países desenvolvidos da Europa e da América do Norte. Além disso, as novas construções devem ser projetadas para operar sem gerar emissões, evitando a conexão com redes de gás. Os processos de construção também devem utilizar materiais circulares e de baixo carbono sempre que possível, a fim de evitar um bloqueio de carbono.

No setor industrial, as emissões de gases de efeito estufa têm aumentado mais rapidamente do que em qualquer outro setor desde 2000. É essencial eletrificar os processos industriais e descarbonizar o fornecimento de eletricidade para mudar a trajetória das emissões. Esse esforço precisa acontecer 1,7 vez mais rápido nesta década. Além disso, é necessário desenvolver novas tecnologias para descarbonizar operações industriais complexas, como processos químicos com emissões de gases de efeito estufa.

A transição para transportes mais sustentáveis é fundamental para combater as emissões de gases de efeito estufa e enfrentar a crise climática. O aumento da posse de veículos e o uso predominante do transporte individual têm contribuído para o crescimento contínuo das emissões no setor de transportes.

Sendo assim, é necessário adotar modos de transporte mais sustentáveis, como caminhada, bicicleta e transporte coletivo. No entanto, os esforços recentes para construir a infraestrutura necessária, como redes de metrô, trilhos para veículos leves, BRTs (Bus Rapid Transit) e ciclovias de alta qualidade, estão aquém do necessário nas principais cidades do mundo. É preciso acelerar as taxas de mudança em seis vezes para o transporte coletivo e mais de dez vezes para as ciclovias.

Nos casos em que a transição para modos de transporte sustentáveis é desafiadora, os veículos elétricos (VEs) podem desempenhar um papel importante. Felizmente, a adoção de VEs está começando a acelerar. Em 2021, a participação de VEs nas vendas de veículos leves atingiu quase 9%, o dobro do ano anterior. Além disso, os VEs estão se tornando cada vez mais competitivos em relação aos veículos movidos a combustíveis fósseis em muitos mercados importantes. Esses sinais encorajadores sugerem que a adoção de VEs para o transporte de passageiros, que precisa ocorrer em um ritmo cinco vezes mais rápido nesta década, experimentará mudanças exponenciais nos próximos anos.

O uso de caminhões elétricos, por exemplo, ainda é limitado devido aos custos das baterias, embora esses custos estejam começando a diminuir. A participação de combustíveis sustentáveis no fornecimento global de combustíveis de aviação foi inferior a 0,1% em 2020, e os esforços para aumentar essa participação ainda estão em estágios iniciais. No transporte marítimo, os combustíveis de zero emissão ainda precisam chegar ao mercado comercial, apesar de haver vários projetos-piloto e demonstrações em andamento.

A proteção e a restauração dos ecossistemas desempenham um papel fundamental na luta contra as mudanças climáticas. Para limitar o aquecimento global a 1,5°C, é necessário reduzir significativamente o desmatamento, a perda de mangues e interromper a degradação das turfeiras ao longo da próxima década.

Esses ecossistemas desempenham um papel crucial no armazenamento de carbono. Juntos, eles armazenam uma quantidade de carbono equivalente a três vezes as emissões globais entre 1990 e 2019. No entanto, eles também são suscetíveis a perdas rápidas de carbono devido a fatores como incêndios, e leva muito tempo para que se recuperem completamente. A recuperação dos estoques de carbono perdidos pode levar décadas para florestas, séculos para mangues e séculos a milênios para turfeiras.

Apesar da importância desses ecossistemas, as iniciativas globais para protegê-los ainda são insuficientes. Entre 2015 e 2021, o desmatamento afetou uma área equivalente ao território do Iraque, resultando na emissão de 25 gigatoneladas de CO2, cerca de 42% das emissões globais de gases de efeito estufa em 2019. Metade dessas perdas ocorreu em florestas tropicais úmidas primárias, que são áreas de grande importância para a biodiversidade e o armazenamento de carbono. Para atingir as metas estabelecidas para 2030, é necessário reduzir o desmatamento em um ritmo 2,5 vezes mais rápido, evitando o desmatamento de uma área equivalente ao território de Porto Rico a cada ano.

Além disso, é crucial restaurar ecossistemas degradados. São necessários esforços para reflorestar 300 milhões de hectares de florestas, recuperar 20 milhões de hectares de turfeiras até 2050 e restaurar 240 mil hectares de mangues até 2030.

Atualmente, as tecnologias existentes conseguem remover apenas cerca de 0,5 milhões de toneladas de dióxido de carbono (MtCO2) por ano, o que representa menos de 1% da quantidade necessária para remover anualmente até 2030, estimada em 75 MtCO2. Para atingir essa meta, é necessário ampliar significativamente o uso de tecnologias de remoção de carbono, visando capturar e armazenar permanentemente um adicional de 7,4 MtCO2 a cada ano.

No entanto, os investimentos tanto públicos quanto privados em tecnologias de remoção de carbono estão aumentando. Isso significa que há uma crescente conscientização sobre a importância dessas tecnologias e seu potencial para mitigar as mudanças climáticas. Nos próximos anos, espera-se que diversos projetos de larga escala sejam lançados, impulsionando ainda mais o desenvolvimento e a implementação de tecnologias de remoção de carbono.

Esses projetos de remoção de carbono em larga escala podem incluir abordagens como a captura direta de ar, que envolve a captura do dióxido de carbono diretamente da atmosfera, e a captura e armazenamento de carbono, que envolve a captura do dióxido de carbono emitido por fontes industriais e sua subsequente injeção e armazenamento subterrâneo. Além disso, o reflorestamento e o uso de práticas agrícolas sustentáveis também desempenham um papel importante na remoção de carbono.

Para acelerar as transformações necessárias para enfrentar as mudanças climáticas, é fundamental ampliar o financiamento climático e alinhar o sistema financeiro com a meta de limitar o aquecimento global a 1,5°C.

Para alcançar a meta de 1,5°C, estima-se que o financiamento climático total precisa atingir a marca de US$ 5,2 trilhões por ano até 2030. Isso representa um aumento anual de cerca de US$ 460 bilhões, o que equivale a uma mudança mais de 10 vezes mais rápida em relação às taxas de crescimento atuais. É necessário um rápido aumento nos investimentos públicos e privados, provenientes de fontes nacionais e internacionais, a fim de tornar viável essa meta de curto prazo.

Além disso, é essencial que os fluxos de financiamento dos países desenvolvidos para os países em desenvolvimento alcancem a meta coletiva de pelo menos US$ 100 bilhões por ano. Essa meta foi estabelecida e prometida pelas nações desenvolvidas até 2020, como forma de apoiar as ações climáticas nos países em desenvolvimento.

Para ampliar o financiamento climático, é necessário adotar abordagens inovadoras, como instrumentos financeiros verdes, parcerias público-privadas e incentivos fiscais para investimentos sustentáveis. Além disso, é crucial garantir a transparência e a rastreabilidade dos investimentos, a fim de garantir que o financiamento seja direcionado para projetos verdadeiramente sustentáveis e alinhados com a meta de 1,5°C.

As instituições financeiras desempenham um papel fundamental nesse processo. Elas devem incorporar critérios ambientais, sociais e de governança (ESG) em suas políticas e decisões de investimento, garantindo que os recursos sejam direcionados para empresas e projetos alinhados com as metas climáticas.

Ampliar o financiamento climático e alinhar o sistema financeiro com a meta de 1,5°C são passos essenciais para acelerar as transformações necessárias para combater as mudanças climáticas. Isso requer um aumento significativo nos investimentos, tanto públicos quanto privados, e o cumprimento das metas de financiamento estabelecidas, especialmente em relação aos fluxos de recursos dos países desenvolvidos para os países em desenvolvimento.

É encorajador observar como soluções já estão mostrando resultados positivos. Por exemplo, políticas de estímulo, como subsídios para infraestrutura de recarga de ônibus elétricos e substituição de frotas na China, resultaram em um aumento significativo nas vendas de ônibus elétricos em todo o mundo. Em apenas alguns anos, a participação de ônibus elétricos nas vendas globais passou de 2% em 2013 para impressionantes 44% em 2021.

Da mesma forma, na Indonésia, após incêndios devastadores, o governo implementou diversas medidas, como uma moratória em empreendimentos em florestas primárias e turfeiras, além da criação de uma agência dedicada à restauração. Essas ações contribuíram para a redução das taxas de perda de florestas primárias desde 2017 e a restauração de aproximadamente 300 mil hectares de turfeiras apenas em 2021.

Esses exemplos mostram claramente o que pode ser alcançado quando líderes governamentais, sociedade civil e setor privado se unem para utilizar as ferramentas disponíveis e acelerar transformações sistêmicas.

Portanto, é essencial continuar avançando em direção a soluções sustentáveis, promovendo mudanças em padrões e comportamentos sociais. Isso exige uma ação conjunta e colaborativa, impulsionada por lideranças comprometidas, que reconheçam a urgência das questões climáticas.

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