A crise humanitária da fome no Sudão é um tema de preocupação mundial desde o início da década de 2010 – e ao longo dos últimos anos o cenário se agravou. Segundo as estimativas mais recentes, cerca de 3,2 milhões de pessoas no Sudão, ou 14,5% da população, estarão em crise alimentar em 2023 e, segundo a diretora de Comunicação do Programa Mundial de Alimentos (PAM) no Sudão, Leni Kinzli, mais de 100 mil crianças correm o risco de morrer caso não recebam atendimento adequado. Esta é uma das piores crises alimentares da região do Chifre de África em mais de 40 anos, pois a região está passando pela pior seca dos últimos tempos – somada a outras causas multifatoriais, incluindo:
– Desnutrição e falta de assistência médica adequada: muitas pessoas no Sudão sofrem de desnutrição crônica, enfraquecendo o sistema imunológico e aumenta o risco de doenças. Além disso, a falta de assistência médica adequada significa que muitas pessoas não têm acesso aos cuidados de saúde básicos, agravando a situação.
– Conflitos armados: o Sudão tem enfrentado conflitos armados em várias regiões, o que tem causado deslocamentos forçados de pessoas e interrupções na produção agrícola e no comércio. Isso afeta o acesso das pessoas aos alimentos e leva à escassez de alimentos em muitas áreas.
– Baixos níveis de produção agrícola: a agricultura é essencial para a economia sudanesa, mas os rendimentos são limitados devido à escassez de chuvas e ao uso de técnicas de cultivo ineficientes, deixando milhões de pessoas sem acesso a alimentos necessários para se sustentarem.
– Mudanças climáticas: o Sudão é um país altamente vulnerável às mudanças climáticas, e os efeitos dessas mudanças estão afetando a produção agrícola e a segurança alimentar. Secas prolongadas, enchentes e outros fenômenos climáticos extremos estão se tornando mais frequentes, o que agrava a situação.
– Instabilidade política e econômica: o Sudão tem enfrentado instabilidade política e econômica nos últimos anos, afetando negativamente a produção agrícola e o acesso das pessoas aos alimentos. A instabilidade também dificulta a coordenação de esforços para enfrentar a crise da fome.
Uma Realidade Que se Arrasta Através dos Anos
O desenrolar do trágico histórico da fome no Sudão vem se agravando ao longo da última década, tendo como causas fatores diversos e adversos. Em 2011, o Sudão do Sul se tornou independente após décadas de guerra civil, o que levou a interrupções na produção agrícola e no comércio, impactando negativamente a segurança alimentar em toda a região. Em 2013, um conflito armado eclodiu no Sudão do Sul, o que causou deslocamentos forçados e interrupções na produção agrícola, levando a um aumento acentuado da insegurança alimentar na região.
Em 2016, o Sudão enfrentou uma crise de escassez de alimentos, causada principalmente pela seca prolongada e pela escassez de chuvas. Cerca de 4,8 milhões de pessoas foram afetadas por essa crise. Em 2017, a insegurança alimentar se agravou no Sudão do Sul, com mais de 5 milhões de pessoas enfrentando escassez de alimentos, conforme a Organização das Nações Unidas para Agricultura e Alimentação (FAO). Além disso, a violência e os deslocamentos forçados continuaram a afetar negativamente a segurança alimentar em todo o país.
Em 2019, a crise da fome no Sudão se intensificou, com cerca de 6,3 milhões de pessoas precisando de assistência alimentar urgente, também segundo a FAO. A seca prolongada, a escassez de chuvas, os conflitos armados e os deslocamentos forçados foram citados como as principais causas da crise. Em 2020, o Sudão já somava cerca de 9,6 milhões de pessoas precisando de assistência alimentar, de acordo com o Programa Mundial de Alimentos (PMS) das Nações Unidas (ONU). A pandemia de COVID-19 também afetou negativamente a segurança alimentar, interrompendo a produção agrícola e o comércio em todo o país.
17% das Crianças Sudanesas Sofrem de Desnutrição Crônica
Segundo dados da Organização das Nações Unidas para Agricultura e Alimentação (FAO – sigla em inglês para Food and Agriculture Organization), as crianças são as mais vulneráveis à crise da fome no Sudão. Aproximadamente 17% das crianças sudanesas sofrem de desnutrição crônica em 2023, o que significa que elas não recebem os nutrientes necessários para crescer e se desenvolver adequadamente. Esse número é equivalente a 3 milhões de crianças sudanesas que estão abaixo da altura média para a idade e com registro de atraso no crescimento de 40%, segundo a Organização Não Governamental Alight, que atua no país. Muitas dessas crianças ainda enfrentam a desnutrição aguda, que ocorre quando não há ingestão suficientemente adequada de alimentos por um período prolongado de tempo.
A desnutrição infantil é uma preocupação global, pois pode afetar a saúde física e mental das crianças a longo prazo. As crianças que sofrem de desnutrição crônica têm maior probabilidade de sofrer de doenças e infecções, além de apresentarem atrasos no desenvolvimento cognitivo e motor. A desnutrição aguda, por sua vez, pode levar à morte se não for tratada adequadamente.
É importante destacar que as consequências da desnutrição infantil podem afetar não só a vida das crianças, mas também o desenvolvimento futuro do Sudão: as crianças são o futuro do país e é crucial que sejam bem nutridas para poderem crescer saudáveis e se tornarem membros produtivos da sociedade. O combate à fome infantil deve ser uma prioridade nas ações de ajuda humanitária no Sudão, com a implementação de programas específicos para garantir a segurança alimentar das crianças e promover o acesso a cuidados de saúde adequados.
Programa Mundial de Alimentos da ONU e UNICEF Levam Esperança ao Povo Sudanês
O Programa Mundial de Alimentos (PMA) é uma agência da Organização das Nações Unidas (ONU) cujo objetivo é combater a fome e a desnutrição em todo o mundo. Fundado em 1961, o PMA fornece assistência alimentar e apoio logístico em situações de emergência, como desastres naturais e conflitos armados.
O PMA é financiado por contribuições voluntárias de governos, organizações privadas e indivíduos. É a maior agência humanitária do mundo no combate à fome, fornecendo assistência alimentar para cerca de 100 milhões de pessoas em mais de 80 países a cada ano. De acordo com os documentos recentes da FAO e do PMA, o montante em dólares para o combate à fome no Sudão em 2023 é de cerca de 2,5 milhões de dólares. Além disso, o Grupo Banco Mundial fornecerá até 1 bilhão de dólares de abril de 2022 a junho de 2023. Estes fundos serão utilizados para ajudar as famílias mais vulneráveis, melhorar os serviços de saúde e incrementar os programas de segurança alimentar.
Uma das principais iniciativas do Programa Mundial de Alimentos é a melhoria dos serviços de saúde, que proporciona assistência médica adequada às pessoas afetadas pela fome. Esse serviço é essencial, pois muitas pessoas sofrem com desnutrição e falta de cuidados médicos básicos. O PMA trabalha para fornecer medicamentos, vacinas e tratamentos para doenças comuns em áreas onde a fome é prevalente. O PMA também implementa programas de distribuição de sementes para aumentar a produção agrícola. Esses programas ajudam os agricultores locais a ter acesso a sementes de alta qualidade e técnicas de cultivo mais eficientes, melhorando a produtividade agrícola e a segurança alimentar. Dessa forma, o PMA ajuda a fortalecer a economia local, reduzindo a dependência de ajuda externa.
Concomitantemente, a Unicef – Fundo das Nações Unidas para a Infância – vem trabalhando para apoiar as mães que amamentam e as mulheres grávidas do Sudão, a fim de garantir que recebam a nutrição adequada durante a gravidez e a amamentação. Os programas de nutrição também incluem o fornecimento de água potável, instalações sanitárias e educação sobre práticas alimentares saudáveis. A Unicef e o Programa Alimentar Mundial procuram fornecer alimentos, medicamentos, suplementos e outros serviços às mais de 150.000 crianças severamente desnutridas no Sudão. Eles também trabalham em conjunto com outras agências da ONU para aliviar os efeitos da seca no Sudão, evento climático que força migrações e colabora com a crise da fome no país.
A ONU ainda estabelece metas de melhorias para o povo sudanês que incluem:
– redução da desigualdade de gênero e o aumento da participação das mulheres na vida política;
– aumento da segurança alimentar e nutricional;
– melhoramento da educação de qualidade;
– melhoria da qualidade de vida das populações mais vulneráveis.
Além disso, a ONU também está trabalhando para aumentar a consciência sobre os direitos humanos, incluindo o direito à proteção, à educação e à saúde. A crise de fome no Sudão é uma preocupação global que precisa ser tratada com urgência. Organizações internacionais, como o PMA e a UNICEF, têm se esforçado para fornecer assistência alimentar e médica adequada para aqueles que sofrem de insegurança alimentar e desnutrição. No entanto, muito mais precisa ser feito para garantir que todas as pessoas no Sudão tenham acesso a alimentos nutritivos e serviços de saúde de qualidade. É importante que a comunidade internacional continue a apoiar essas iniciativas e trabalhe para encontrar soluções sustentáveis para combater a fome e melhorar o bem-estar das pessoas no Sudão.