A Índia, prestes a se tornar o país mais populoso do mundo, enfrenta uma grave ameaça à sobrevivência humana devido às ondas de calor cada vez mais frequentes e intensas. O Escritório Nacional de Clima indiano prevê um aumento das temperaturas nas próximas semanas de março, após um mês de fevereiro mais quente desde 1901. Existe uma crescente preocupação de que a onda de calor recorde do ano passado, que causou danos generalizados às colheitas e apagões de várias horas em todo o território indiano, possa se repetir. As altas temperaturas, chegando a 50 graus Celsius, afetam severamente a população de 1,4 bilhão da Índia, especialmente aqueles em cidades densamente povoadas sem habitações bem ventiladas ou ar condicionado.
O país asiático está em uma situação fora do comum no que diz respeito ao aquecimento global, com fatores como o efeito de ilha de calor urbano – um fenômeno em que áreas urbanas densamente povoadas e com muitas construções absorvem e retêm mais calor do que as áreas rurais circundantes, criando uma temperatura média mais elevada na cidade – e o desmatamento piorando ainda mais a situação. Quanto mais quentes e duradouras as ondas de calor se tornarem, mais prováveis serão as fatalidades, e com as temperaturas de base já elevadas na Índia, cada acréscimo mínimo na temperatura em locais de grandes aglomerações representa um risco iminente às condições mínimas de sobrevivência de uma população, que já é a segunda maior do planeta. As ondas de calor mais intensas, que mantêm as temperaturas elevadas por períodos mais longos, costumam resultar em um número maior de fatalidades e, na Índia, essa situação é agravada por este rápido aumento populacional ocorrido nas últimas décadas. É fundamental que medidas sejam tomadas para mitigar esses efeitos, incluindo diretrizes de planejamento urbano que priorizem espaços verdes, sombra e ventilação na construção de edifícios, investimentos em pesquisas e desenvolvimento de soluções de resfriamento de baixo consumo energético e incentivo ao uso de telhados verdes, telhados frios e plantio de árvores para reduzir o efeito de ilha de calor urbano.
O perigo mais preocupante reside no fato de que a temperatura de base na Índia já é muito alta atingindo leituras acima dos 40°C. As projeções para maio/2023, são de que as únicas regiões do planeta com temperatura comparável ao norte da Índia serão o Saara e algumas partes da península Arábica, ambas muito pouco povoadas. As consequências para a sociedade indiana são amplas: períodos prolongados de ondas de calor provocam a dessecação significativa do solo em grandes áreas, além das óbvias implicações para a agricultura, o que pode afetar o início do período das monções em um mês, além de comprometer a segurança hídrica e até provocar enchentes localizadas, quando chuvas intensas atingem solos secos que não conseguem absorvê-las.
Períodos pré-monções excepcionalmente quentes também estão associados a:
- diminuição na produtividade do trabalho, especialmente em setores ao ar livre, como a agricultura e a construção;
- aumento da demanda por refrigeração, o que pode sobrecarregar a rede elétrica e levar a um aumento das emissões de gases de efeito estufa;
- e riscos gerais à saúde, como a insolação, que afetam de forma desproporcional crianças, idosos e comunidades de baixa renda.
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Nesse contexto de combate ao aquecimento global, muitas ideias são apresentadas como priorizar espaços verdes, sombra e ventilação no design de edifícios em políticas de planejamento urbano. Soluções de resfriamento de baixa energia – como sistemas passivos – devem ser investidas por empresas, assim como o design de edifícios energeticamente eficientes. Nas comunidades, a redução do efeito de ilha de calor pode ser alcançada por meio de telhados frios, telhados verdes e plantio de árvores. Tais medidas estão se tornando cada vez mais populares em cidades mediterrâneas, a exemplo do Parque Diagonal Mar em Barcelona, Espanha, que possui um telhado verde com mais de 60 espécies de plantas nativas; o Edifício Solaria em Nicosia, Chipre, que usa energia solar e possui um sistema de resfriamento passivo; e o Green Academy em Valência, Espanha, um edifício universitário que usa um sistema de ventilação natural e um telhado verde para reduzir o impacto ambiental.
Edifícios verdes são uma solução importante para reduzir o aquecimento nas cidades. Eles são projetados com o objetivo de serem energeticamente eficientes, com sistemas de ventilação, iluminação natural, isolamento térmico e uso de materiais de construção sustentáveis. Esses edifícios são capazes de reduzir o consumo de energia em até 30% e as emissões de gases de efeito estufa em até 35%, o que ajuda a combater o aquecimento global. Já os telhados ecológicos são outra solução popular para reduzir o aquecimento urbano – esses telhados são cobertos com vegetação, que ajuda a reduzir a temperatura no telhado e no interior do edifício. Eles ajudam a reduzir o escoamento de água pluvial e melhoram a qualidade do ar.
O aumento das temperaturas e ondas de calor mais frequentes e intensas representam um grande desafio para a Índia e outras cidades em regiões de clima similar. Soluções viáveis, como a implementação de edifícios verdes, telhados ecologicamente corretos e sistemas de resfriamento de baixa energia já são uma realidade em países que implementam programas sérios para frear os efeitos do aquecimento global e precisam ser consideradas para países em desenvolvimento. É importante incentivar e implementar essas soluções em locais que já sentem drasticamente os efeitos das mudanças climáticas – como o caso da Índia – para minimizar os impactos do aquecimento global e garantir um futuro mais sustentável e saudável para todos.