A fim de alcançar as metas do Acordo de Paris e reduzir as emissões de gases de efeito estufa, é necessário que todos os atores na economia real diminuam suas emissões em um ritmo que corresponda às metas cientificamente estabelecidas. É preciso compreender que as emissões de carbono oriundas das atividades de empresas e indústrias ocorrem dentro de um sistema econômico e regulatório amplo, que gera incentivos e desincentivos complexos para incentivar a redução das emissões em todos os setores da economia mundial. Todos os atores em uma cadeia de valor compartilham influência sobre as emissões diretas de cada um e, portanto, têm a responsabilidade de reduzi-las. As instituições financeiras têm uma influência única sobre outros atores por meio de seus serviços de investimento e empréstimo, o que pode ser alavancado para alinhar incentivos e eliminar barreiras à descarbonização sistêmica em conformidade com o Acordo de Paris.
A transição para uma economia de baixo carbono é um desafio que exige a adoção de compromissos audaciosos por parte das instituições financeiras. Esse compromisso estabelece o objetivo de tornar os fluxos financeiros coerentes com a redução das emissões de Gases de Efeito de Estufa (GEE) e, nesse contexto, as instituições financeiras têm uma grande responsabilidade na transição para uma economia descarbonizada, pois elas financiam algumas das indústrias mais intensivas em emissões carbono no mundo. Porém, para compreender o impacto ambiental associado às instituições financeiras e estabelecer metas de redução de emissões em consonância com o Acordo de Paris, é essencial quantificar as emissões financiadas.
Pensando em facilitar os cálculos de emissões diretas e indiretas de projetos associados ao mercado financeiro de investimentos, a Science Based Targets Initiative (SBTi) lançou o guia SBTi Finance Sector e TCFD Reporting Guidance para fomentar estratégias climáticas confiáveis, que fornece normas para que bancos, empresas de private equity, gestores de ativos, proprietários e fundos de investimento imobiliário hipotecário harmonizem metas baseadas em ciência com divulgações robustas de oportunidades e riscos relacionados ao clima, de acordo com os planos de transição das instituições. O SBTi é uma iniciativa global que tem como objetivo incentivar empresas a estabelecer metas baseadas em ciência para a redução de emissões de gases de efeito estufa e que é apoiada por várias organizações, incluindo o Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente (PNUMA), o World Wildlife Fund (WWF) e o Carbon Disclosure Project (CDP). O guia SBTi Finance Sector e TCFD Reporting Guidance é uma ferramenta importante para ajudar as instituições financeiras a quantificar e reduzir suas emissões de gases de efeito estufa.
A orientação da SBTi Finance Sector e TCFD Reporting Guidance fornece um caminho para que as instituições financeiras alinhem suas metas de redução de emissões com os objetivos do Acordo de Paris. Isso envolve a identificação de oportunidades de redução de emissões em suas próprias operações e nas empresas e projetos que financiam. Além disso, o guia incentiva as instituições financeiras a divulgar informações claras e precisas sobre os riscos e oportunidades relacionados ao clima em seus relatórios financeiros, de acordo com as recomendações da Task Force on Climate Related Financial Disclosures (TCFD).
A adoção da estrutura SBTi Financial Institutions e a divulgação de informações de acordo com as recomendações da TCFD pode trazer benefícios para as instituições financeiras, incluindo uma maior transparência e confiança por parte dos investidores e dos clientes, bem como uma maior vantagem competitiva na transição para uma economia de baixo carbono. A redução das emissões de gases de efeito estufa também leva a uma redução dos riscos relacionados ao clima, como a exposição a eventos climáticos extremos e regulamentações mais rigorosas.
Para ilustrar a importância do engajamento das instituições financeiras na redução de emissões de gases de efeito estufa, temos a atuação do Banco Europeu de Investimento (BEI), que se comprometeu a se tornar um banco climático desde 2019. O BEI, maior instituição financeira multilateral do mundo, prometeu investir 1 trilhão de euros em ações climáticas e sustentáveis até 2030 e se tornar um banco totalmente alinhado com os objetivos do Acordo de Paris.
Para atingir essas metas, o BEI adotou diversas estratégias baseadas em ciência, como a quantificação das emissões financiadas por meio da ferramenta Emissions Performance Standard (EPS), que estabelecem um limite máximo de emissões de gases de efeito estufa (GEE) para projetos financiados pelo banco. Além disso, o BEI também aderiu a metodologia do Science Based Targets Initiative (SBTi) para estabelecer metas de redução de emissões em consonância com o Acordo de Paris.
Essas medidas já começaram a surtir efeito: em 2022, o BEI investiu mais de 36 bilhões de euros em projetos de energia renovável, eficiência energética e transporte sustentável, o que resultou na redução de mais de 10 milhões de toneladas de emissões de GEE. O banco também anunciou recentemente que não financiará mais projetos de combustíveis fósseis, exceto em circunstâncias excepcionais, e está trabalhando para descarbonizar sua própria operação.
As instituições financeiras podem e devem desempenhar um papel fundamental na transição para uma economia de baixo carbono, por meio de estratégias baseadas em ciência e compromissos ambiciosos. Ao quantificar as emissões financiadas, estabelecer metas de redução de emissões e eliminar barreiras à descarbonização sistêmica, as instituições financeiras promovem a mudança para um futuro mais sustentável, alinhado com o Acordo de Paris.